Idealize uma tarde de dezembro em Nova Lima, o sol brilhando suave nas montanhas, e aquele perfume quente de frutas secas e conhaque tomando conta de uma cozinha de pedra. A queca, esse bolo natalino, não é só uma delícia pra comer com café coado: é uma história que mistura Minas Gerais com um tiquinho de Inglaterra. Já imaginou saborear um pedaço de bolo que carrega causos de mineiros e ingleses ao pé do fogão? Então, pega uma xícara de café e vem comigo!
No início do século XIX, Nova Lima era um fervo de vida por causa da mineração. Os ingleses da Saint John Del Rey Mining Company chegaram em 1834 pra explorar a Mina de Morro Velho, trazendo na bagagem o “Christmas Cake”, aquele bolo carregado de frutas secas e conhaque que aquecia o Natal na Inglaterra. Mas, aqui em Minas, esse bolo ganhou um jeitinho especial: virou a queca, com um nome que parece um carinho mineiro, cheio de graça e história. O nome “queca” é uma brincadeira com o jeito de falar local.
Agora, pensa numa cozinha típica inglesa, com um forno a lenha crepitando, como as casas antigas de Nova Lima construídas pelos britânicos. Nesta época, as mulheres misturavam figos cristalizados, passas, nozes e um gole generoso de conhaque, enquanto a massa descansava pra ficar bem úmida e perfumada. Era um bolo de festa, feito pra celebrar o Natal e presentear amigos. Teve até uma dona Ana, lá por 1850, que contava pros netos como sua queca era tão disputada que vizinhos faziam fila na porta! A queca virou símbolo de união, levando o sabor da Inglaterra para montanhas mineiras, com um toque de calor humano que só Minas tem.
Fazer queca em Nova Lima é mais que cozinhar: é um ritual. No Natal, as famílias se juntavam pra picar frutas cristalizadas – laranja, cidra, figo – enquanto proseavam sobre a vida, os amores e até uns causos engraçados, como o do seu Manoel, que jurava que uma queca bem feita espantava até mau-olhado. O bolo, embrulhado em papel bonito, era presente trocado entre vizinhos, sempre com um café coado pra acompanhar. O cheiro do conhaque e da canela saía do forno e tomava a casa, trazendo aquele clima de festa que aquecia o coração.
Dessa forma, a queca carrega a hospitalidade mineira, mas com um pé na Inglaterra. As especiarias, como noz-moscada e cravo, vinham do gosto inglês, enquanto a simplicidade das cozinhas de Nova Lima dava o toque local. Era comum ouvir mulheres discutindo o ponto certo da calda escura, feita com açúcar queimado, pra deixar o bolo bem moreno e firme, sem esfarelar. Cada fatia era uma prosa, um momento de partilha que fazia do Natal nova-limense algo inesquecível.
Em Nova Lima, a queca é rainha do Natal e patrimônio imaterial desde 2012 pela Prefeitura Municpal de Nova Lima. Você pode encontrar esse bolo no Festival da Quitanda de Congonhas, que celebra as delícias mineiras, e traz a queca em destaque, com suas versões cheias de frutas e perfume.
Já fora de Nova Lima, cidades como Ouro Preto e Mariana têm quitandeiras que fazem variações da queca, sempre com aquele toque natalino. É um bolo que não se encontra em qualquer esquina, mas, quando você prova, sente o peso da história. Se passar por Nova Lima em dezembro, procure uma feira ou uma confeitaria local: o aroma da queca vai te guiar!
Quer trazer o Natal de Nova Lima pra sua cozinha? Anota essa receita tradicional, que é puro carinho e história. É simples, mas pede paciência pra deixar o bolo curtir e ficar com aquele sabor que abraça.
Ingredientes (rende aproximadamente 4 formas de bolo inglês):
Modo de Preparo:
Sirva em fatias finas, com aquele café coado que é a cara de Minas. A textura úmida e o sabor das especiarias vão fazer você sentir o Natal!
A queca chegou a Minas com os ingleses, mas teve o toque especial das quitandeiras que começaram a usar ingredientes como rapadura em algumas versões, misturando com o conhaque e as especiarias importadas.
Então, o toque inglês tá nas frutas cristalizadas, na noz-moscada e no cravo, que dão aquele sabor sofisticado. Mas a queca é mineira na essência: é o bolo das prosas, das tardes de Natal em que a família se reúne pra dividir histórias e risadas. Essa mistura de dois mundos fez da queca um símbolo de celebração, unindo o requinte da Inglaterra com o calor da hospitalidade de Minas.
A queca é mais que um bolo: é um pedaço do patrimônio de Nova Lima, uma ponte entre Minas Gerais e a Inglaterra que atravessa séculos. Cada fatia traz o perfume do conhaque, o crocante das nozes e a memória de um Natal feito de partilha. Que tal experimentar essa receita em casa, sentir o cheiro do forno e dividir com quem você ama? Ou, melhor ainda, fazer uma viagem até Nova Lima pra provar a queca? Cada mordida é um abraço mineiro, um pedaço de história que aquece o coração.
Referências:
PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Modo de fazer a queca. Ipatrimônio, [s.d.]. Disponível em: https://www.ipatrimonio.org/nova-lima-modo-de-fazer-a-queca.
BONOMO, J. As quitandas de Minas Gerais: uma análise das origens de um alimento luso-afro-brasileiro. In: XIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, 2017, Salvador. Anais… Salvador: UFBA, 2017. Disponível em: https://www.lusobrasileiro2017.ufba.br.
CÂMARA CASCUDO, L. História da alimentação no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2011.
TERRITÓRIOS GASTRONÔMICOS. Queca de Nova Lima: uma iguaria natalina de origem inglesa. Belo Horizonte: Territórios Gastronômicos, 2020. Disponível em: https://www.territoriosgastronomicos.com.br/queca-nova-lima.
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Imagina uma noite fresquinha em Nova Lima, o cheiro de coco ralado e massa folhada…
Imagine uma manhã fresquinha no interior de Minas Gerais, com aquele cheiro de fubá quente…