Lamparina: A Quitanda que Ilumina Histórias de Minas e Portugal

Imagina uma noite fresquinha em Nova Lima, o cheiro de coco ralado e massa folhada saindo do forno a lenha, e uma lamparina brilhando na mesa, como uma vela que se come. Essa quitanda, que dizem ter encantado até Dom Pedro II, não é só um doce: é um pedaço da história de Minas Gerais e Portugal. Já pensou em provar um doce que ilumina causos antigos com cada mordida? Pega um café com prosa e vem comigo!

O Nascimento da Lamparina: Um Doce de 1881

Por volta de 1881, Nova Lima vivia o auge da mineração, com a Mina de Morro Velho a pleno vapor. Conta a história que, durante a visita do imperador Dom Pedro II à cidade, as quitandeiras locais capricharam para impressionar a comitiva real. Inspiradas no pastel de Belém português, elas criaram a lamparina, uma quitanda com massa folhada, recheio cremoso de coco, açúcar, gemas e um toque de noz-moscada. O nome veio das lamparinas a óleo que iluminavam as pousadas da época, com um pavio de açúcar que, dizem, era aceso para surpreender os hóspedes.

Agora, pensa numa pousada antiga, com o crepitar do fogo e o perfume doce de coco enchendo o ar. As quitandeiras moldavam a massa com cuidado, enquanto proseavam sobre os viajantes que chegavam em busca de ouro. Havia até um causo famoso: dona Clara, uma cozinheira de 1880, jurava que sua lamparina era tão boa que até o imperador pediu mais uma! A lamparina virou símbolo de hospitalidade e criatividade, sendo registrada como patrimônio imaterial de Nova Lima em 2016.

Costumes e Causos: A Lamparina na Vida Mineira

A lamparina sempre foi mais que um doce: era um gesto de carinho. Nas pousadas de Nova Lima, ela era servida em bandejas rústicas, com café coado, para acolher viajantes cansados. Durante festas de santos ou encontros familiares, as quitandeiras ralavam coco fresco enquanto contavam causos. O pavio de açúcar, aceso com cuidado, era o grande charme, fazendo os olhos dos convidados brilharem tanto quanto a quitanda.

Assim, a hospitalidade mineira tá no coração da lamparina. O recheio cremoso, com aquele toque de noz-moscada, trazia o requinte português, mas o coco ralado e o forno a lenha davam o jeitinho de Minas. Era comum ouvir as cozinheiras discutindo o ponto certo da massa, que precisava ser crocante por fora e macia por dentro. Cada lamparina era uma prosa, um momento de partilha que aquecia as noites frias do interior.

Onde a Tradição Vive: A Lamparina Hoje

Hoje, a lamparina é um tesouro de Nova Lima, onde é reconhecida como patrimônio imaterial desde 2016. Quitandeiras mantêm a receita viva, vendendo lamparinas em feiras locais ou sob encomenda. O Festival da Quitanda de Congonhas, que celebra as delícias mineiras, sempre tem um cantinho pra lamparina, com sua massa dourada e recheio cheiroso. Em Ouro Preto e Brumadinho, feiras gastronômicas também resgatam essa tradição, muitas vezes com cursos oferecidos pela Secretaria Municipal de Cultura de Nova Lima.

Então, a lamparina não é só um doce: é um pedaço da história que resiste. Se passar por Nova Lima, procure uma padaria: o sabor da lamparina vai te transportar direto pro passado!

Faça Sua Lamparina em Casa: A Receita Tradicional de Nova Lima

Quer trazer o gostinho de Nova Lima pra sua mesa? Anota essa receita tradicional, que é puro carinho e história. É simples, mas pede capricho pra fazer jus à tradição!

Ingredientes (rende cerca de 20 lamparinas, forminhas de empada):

  • 2 xícaras de farinha de trigo
  • 1/2 xícara de banha (ou manteiga, para a massa)
  • 1/4 xícara de água gelada
  • 1 pitada de sal
  • 2 xícaras de coco ralado fresco
  • 1 xícara de açúcar
  • 3 gemas
  • 1/4 xícara de manteiga (para o recheio)
  • 1 colher de chá de noz-moscada
  • 1 colher de chá de fermento químico
  • Açúcar de confeiteiro (opcional, para o pavio decorativo)

Modo de Preparo:

  1. Comece pela massa: misture a farinha, a banha, o sal e a água gelada até formar uma massa lisa. Embrulhe e deixe descansar na geladeira por 30 minutos.
  2. Para o recheio, misture o coco ralado, o açúcar, as gemas, a manteiga derretida e a noz-moscada. Mexa bem até ficar cremoso. O cheiro do coco vai te conquistar!
  3. Abra a massa bem fina com um rolo e corte círculos para forrar forminhas de empada (5 cm de diâmetro). Coloque 1 colher de sopa do recheio em cada forminha.
  4. Se quiser o pavio decorativo, polvilhe uma linha fina de açúcar de confeiteiro no centro do recheio, imitando uma chama e coloque um cravo.
  5. Preaqueça o forno a 180°C. Asse as lamparinas por 40 minutos, até a massa ficar dourada e crocante. O aroma do coco vai tomar a casa!
  6. Deixe esfriar antes de desenformar. Sirva com café coado, sentindo a textura crocante da massa e o recheio macio.

Cada mordida é um pedaço de Minas, com aquele gostinho que lembra as pousadas antigas.

Um Doce de Duas Terras: Influências Portuguesas e Mineiras

A lamparina nasceu da inspiração no pastel de Belém, trazido pelos portugueses no período colonial. Quando Dom Pedro II visitou Nova Lima em 1881, as quitandeiras adaptaram o doce português, trocando o creme de natas por um recheio de coco, abundante na região. O nome “lamparina” veio da criatividade mineira, inspirado nas lamparinas a óleo que iluminavam as pousadas, com um pavio de açúcar que dava um toque teatral ao doce.

A massa folhada e as gemas trazem o requinte português, enquanto o coco e o forno a lenha são puro jeitinho mineiro. Essa fusão transformou a lamparina num símbolo de acolhimento, servida para receber viajantes e celebrar momentos especiais. É um doce que conta a história de duas terras, unidas pelo sabor e pela hospitalidade.

O Sabor da História

A lamparina é mais que uma quitanda: é um patrimônio de Nova Lima, uma chama que ilumina a história de Minas Gerais e Portugal. Cada mordida traz o crocante da massa, o doce do coco e a memória de um passado feito de prosas e afetos. Que tal experimentar essa receita em casa, sentir o aroma do forno e compartilhar com quem você ama? Ou, melhor ainda, visitar Nova Lima pra provar a lamparina de uma quitandeira como dona Maria da Conceição? Cada lamparina é um abraço mineiro, uma luz que aquece o coração.

Referências:

BONOMO, J. As quitandas de Minas Gerais: uma análise das origens de um alimento luso-afro-brasileiro. In: XIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, 2017, Salvador. Anais… Salvador: UFBA, 2017. Disponível em: https://www.lusobrasileiro2017.ufba.br.

CÂMARA CASCUDO, L. História da alimentação no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2011.

PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Modo de fazer a lamparina. Ipatrimônio, [s.d.]. Disponível em: https://www.ipatrimonio.org/nova-lima-modo-de-fazer-a-lamparina.

TERRITÓRIOS GASTRONÔMICOS. Lamparina de Nova Lima: um doce que ilumina a história. Belo Horizonte: Territórios Gastronômicos, 2019. Disponível em: https://www.territoriosgastronomicos.com.br/lamparina-nova-lima.

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